A Queda dos Influencers

As it girls do agora largaram esse estatuto, que se revela démodé, e agarram-se ao termo influencer. A tradução para português é influenciador e  soa tão mal que todos usamos o estrangeirismo. Soa mal porque, de facto, está a ser um trabalho mal feito. Nos blogs - quase extintos - escrevem textos desmesurados acerca de questões íntimas, envolvem-nos na narrativa para nas duas frases finais passarem a publicidade ao produto milagre que ajudou imenso nas etapas pessoais descritas... Pode ser um creme para as estrias pós gravidez ou um ginásio com os melhores personal trainers. Esta manipulação faz com que não queiramos voltar a visitá-los e ao mesmo tempo o escritório desta profissão, no qual passam agora mais tempo, é outro, chama-se Instagram.

Arvida Byström para a Ssense


Têm vindo à tona vários textos acerca desta temática, onde é explícita a queda dos influencers e correspondentemente das estratégias de marketing das marcas. Tal deve-se, em parte, ao fenómeno de clonagem destas mulheres e homens, que um dia foram tidos como únicos e especiais e hoje são só mais um em cem a irem aquele evento e a partilharem as novas maquilhagens e sapatos da marca x ou y. Os clones vestem as mesmas marcas com o mesmo styling, tomam brunch nos mesmos sítios, escrevem da mesma forma, usam os mesmos filtros e apps de edição... Até nas stories do Instagram a estratégia passou a ser igual, o que é bem irónico pois esta ferramenta nasceu para que os utilizadores pudessem dar rédeas à criatividade e divirtirem-se sem sujar a imaculada exposição da sua vida nos quadradinhos. Hoje a curadoria é exímia tanto na grelha como nos directos ou nas histórias.

Esta semana a Alyssa Coscarelli, que mostrei aqui, fez vários questionários nas suas stories, perguntando se deveria comprar uma máquina fotográfica para as suas viagens ou continuar a usar o seu iPhone. A maioria respondeu-lhe que continuasse a usar o telemóvel. Perguntou também que tipo de fotografias os seus seguidores preferiam, as semi-profissionais ou as naturais, com o tal iPhone. A resposta maioritária deu a vitória à segunda opção. Porém, quando a escritora/influencer pergunta se gostam de fotografias analógicas e polaroids mais de 80% afirmam que sim. Estamos sedentos de normalidade, de uma estética que reconhecemos do dia-a-dia e do passado, que conseguimos montar também, com poucos ingredientes. Ultimamente não se aplaudem da mesma forma as imagens com grandes lentes e pixeis, equipas de maquilhagem, cabelo e pós edição. Queremos um registo sem complicações, tão momentâneo que não tivemos tempo de pegar em mais nada sem ser no telefone, que já faz parte da nossa morfologia contemporânea. As marcas demoraram para tomar as rédeas do Instagram mas quando se acomodaram encheram o nosso feed de imagens super profissionais e retocadas, grelhas ponderadas e organizadas com semanas de antecedência, sendo que hoje podem também fazer o schedule de posts, como já acontecia no Facebook. De início, os influencers, ao colaborarem com as marcas, faziam com que o público confiasse no que estava ali a ser exposto e muitas das vezes a remuneração era inexistente, apenas recebiam presentes. O consumidor acreditava na imparcialidade da celebridade. O passo seguinte foi  influenciadores desenvolverem o seu ofício e a sua marca pessoal, da mesma forma que os grandes nomes comerciais, com o mesmo registo em imagem, texto e composição. Infelizmente o público millennial gradualmente mostrou que não quer seguir esse tipo de conteúdo... A ingenuidade perdeu-se  e surgiram regras que obrigam as publicidades pagas a estarem expostas com legendas. Quem está atento e joga limpo fá-lo e quando menciona algo que adorou e quer partilhar, sublinha que não é um post pago.


Hoje, as tendências culturais são tão voláteis que muitos chegam tarde à festa porque se perderam em caminhos óbvios e muito comerciais. A verdade é que indivíduos com menos seguidores (micro-influencers) conseguem marcá-los mais eficazmente que aqueles que têm um exército como público, mas cujos conselhos - publicidade - caem em saco roto. Pessoalmente prefiro seguir contas de Instagram cujos dígitos de followers não passem os 10.000. Sinto que aquela conta não está - ainda - conspurcada com anúncios e fotografias fabricadas não por branding pessoal mas sim por branding multinacional.  Exemplos como os de Imani, Becca, Sofia, Younes ou Jonas que têm sido promovidas por sites de lifestyle e marcas, mostram-nos que é possível ter um instagram interessante, real, terra a terra, sem manipulações pagas. Exigimos isto e também uma voz, uma opinião. Queremos ser inspirados mais do que influenciados e esta inspiração procura-se em todas as vertentes: cultural, política, social, musical, artística... Nos dias que correm condenamos ídolos por não apresentarem opiniões em sintonia com o respeito e liberdade, como o caso de Miroslava Duma e Ulyana Sergeenko, que no início deste ano se viram no epicentro de um escândalo racista. Duma partilhou nas suas histórias um envelope onde Sergenko a tratava por nigga, numa referência à música de Jay-Z e Kanye West. Sendo as duas empresárias de origem russa, esta imagem não passou despercebida à comunidade da aplicação. Após pedidos de desculpas de ambas surgiu um vídeo que datava de 2012, no qual Miroslava lecciona uma palestra a alunos de Moda e dava a sua opinião negativa quanto a homens que se vestem de forma feminina. Nomes como Bryanboy, Andreja Pejic, Kim Kardashian e Paris Hilton são citados de forma pejorativa e novamente a influenciadora vem a público pedir perdão perante um público de seguidores esquivos e haters. Durante anos construíu o seu império, com base no seu estilo pessoal e agradando a sua seita de fãs. Porém, esqueceu-se de se actualizar no que diz respeito à aldeia global em que vivemos.

O caminho do sucesso tem de ser trabalhado tendo em conta a comunidade e não só os seguidores. Ou seja, pensar em quem aprecia as fotos, dá likes e segue como pares e não como alguém que está abaixo na pirâmide. Trabalhar tendo em conta apenas o gosto e identidade pessoal, tentar ser integro e transparente são as chaves para manter esta nova profissão do século XXI. Resumidamente, trabalhar menos com a cabeça e mais com o coração.

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