Até Sempre, Helena


Muitos choraram, velaram e fizeram vigílias por cantores e actores que faleceram. Muitos ficaram sem os seus ídolos, autores das canções favoritas que foram banda sonora de tantas vidas. A dor generalizada nunca me assentou. Não me entendam mal, a partida destes ícones é sempre difícil, simplesmente nunca me comovi em demasia... até aqui. Esta semana começou com a mais triste das notícias, Helena Almeida faleceu. Conheci-a nos livros, foi neles que nos apresentaram. Uma mulher forte, corajosa, contemporânea, artista e uma adolescente receosa, impulsiva, confusa e a querer muito fazer arte. Só agora compreendo a cem por cento a influência que teve em mim, na construção do meu Eu. Ao partilhar estes sentimentos no Instagram descobri que o mesmo acontecia com mais mulheres (e também homens) da minha geração. Vi ali muitas demonstrações de amor eterno a Helena e no dia seguinte, homenagens nos jornais. Fiquei surpreendida pois por vezes, quando temos o legado de alguém tão perto da nossa alma, entranhado no nosso gosto, sentimos o autor como apenas nosso, irreconhecível a outros olhos. Por exemplo, é como pensar que a música Heroes de David Bowie tem um laço de exclusividade com a nossa história de amor ou James Dean obedece apenas a uma atracção platónica, a nossa.


Para além do universo público e legiões de admiradores, estes ídolos têm a esfera privada e a família, tantas vezes intactas pelo escrutínio social, como é o caso da artista portuguesa e do seu marido. Muitos chamam a Artur o seu cúmplice artístico. Cúmplice na vida, dentro e fora dos atelier. Lembro-me precisamente de discutirmos o seu papel na obra de Helena, nas aulas de História. Eu opinava que ele apenas carregava num botão, fazia o clique para eternizar o momento idealizado pela esposa. Hoje, após a obstinação da adolescência e ao aperceber-me da obra mais tardia de Helena, na qual o marido é também retratado, entendo-o sim como um cúmplice da criatividade e do amor. 

Durante estes dias todos pintámos o coração de azul, cor tão característica do espólio desta mulher, que entregou o corpo à Arte. Estamos todos eternamente gratos.

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