Para Onde Foi o Tempo?

Desde Setembro que andamos todos a soltar estas palavras ao vento: "Daqui a pouco é Natal...". Até que Dezembro chegou, observado com o nosso olhar incrédulo... falta um mês para terminar o ano! Esta ladainha repete-se a cada 12 meses mas desta feita a sensação é comum a mais gente, como se todos tivéssemos ficado congelados no tempo e o mundo continuasse a girar sem a nossa participação. Para onde foi o tempo, que passou tão depressa? Pois bem, ele anda sempre no seu passo, vagaroso quando estamos aborrecidos e super-sónico quando nos vemos entretidos. Somos nós que tomámos as rédeas dos cavalos velozes nas nossas vidas. Vivemos numa azáfama na era que se quer slow

Custa admitir, mas é difícil passar da teoria à prática neste aspecto de acalmar para atingir a felicidade máxima. Numa altura em que "podemos" ser tudo o que quisermos rendemo-nos ao multitasking e fazemos malabarismos com trabalho, estudos, família, amigos, aquele hobbie ou talento escondido que no fim do mês também nos traz uns bons trocos... A aceitação a esta vivência multifacetada pode estar a sabotar-nos quando nos acostumamos aos prazos, ao reboliço e às poucas horas de sono. Não temos parado para reflectir, avaliar, descansar. 

 Alice Schillaci para ODDA Magazine October 2016

Mesmo quando o tempo se adjectiva de livre, enchemo-lo com mais horas da série sensação, na qual nos viciámos ou perdemo-nos no separador da lupa no Instagram. Como assim, vamos culpar as redes sociais e as produções televisivas? Sim, vamos, como culparemos também a Netflix e a Amazon Prime Video, que com a distribuição de todas as temporadas completas nos levam a devorar 20 episódios por fim-de-semana... Quando nos alienamos da realidade desta forma, embrenhados nas tramas do ecrã, nem damos pelo dia passar. E isto também é válido para o buraquinho da fechadura que as redes sociais são. Não conseguimos parar de agir como mirones da vida alheia, umas vezes mais activamente e outras em modo ninja, apenas a fazer um passivo e interminável scroll.

Facilmente esta vida agitada se parece com a roda do hamster e entramos numa rotina em que a preguiça é facilitada pela proliferação de Uber Eats e Glovos, que nos propõem não cozinharmos e não nos chatearmos tanto... A isto juntamos a instabilidade das estações do ano que já não oferecem o compasso meteorológico de outrora. A normalidade hoje é chover no Verão e o calor manter-se até estranhamente tarde. Esta dissolução de cada quarta parte dos 365 dias faz com que os normais afazeres sazonais sejam interrompidos com tarefas características de outras alturas. Por exemplo, fazer praia em Outubro ou vestir camisolões até Junho. As dinâmicas alteram-se a um ritmo que nos é imposto sem pré-aviso e cada volta em torno do sol passa a ser um borrão de eventos organizados cronologicamente. Agora resta-nos esperar por 2019 e treinar mindfulness para que cada dia seja vivido com a máxima atenção.

Comentários

Trending