Cabo Verde




Quase que num impulso foi tomada a decisão de voar até S. Vicente, Cabo Verde. No fim de Fevereiro, mesmo a colar ao Carnaval, materializava uma das decisões mais inesperadas da minha vida, iniciando as viagens extra continentais. Porém, a melhor altura para visitar este país é entre Março e Julho, quando as temperaturas estão mais altas e não chove. Ficámos com a Vanessa, que agora está por lá, e foram poucas as horas que separaram a nossa chegada de uma das várias festas de Carnaval que têm Mindelo como anfitrião.  O espírito da folia é bem intenso e todos dançam, cantam e estão vestidos a rigor.


Nos restantes dias as caminhadas fizeram-nos conhecer Mindelo e a Praia da Laginha. O Museu do Mar, uma mini Torre de Belém, foi paragem obrigatória, tal como o CNAD, onde pudemos ver exposição de vários artistas locais, desde tapeçaria a olaria. O espaço está a ser reinventado e periodicamente é palco de formações, desfiles e tertúlias. A casa da Cesária Évora foi também um destino turístico interessante e para explorar os produtos nacionais nada como uma ida ao mercado da fruta, do peixe e à Praça da Estrela. De táxi, com um preço bem simpático, fomos passear pelas zonas mais remotas da ilha e adorei o Calhau, com os tons negros vulcânicos em contraste com o mar reluzente. Poético mesmo! Uma tarde foi passada na Baía das Gatas, onde nadei bastante, tendo como pano de fundo um cenário maravilhoso.



Um dia foi inteiramente reservado para visitar Santo Antão, a ilha verde. Após a travessia de barco, à chegada a Porto Novo estão imensas carrinhas Hayes, cujos condutores regateiam preços com os turistas. Fomos até ao Paúl numa estrada fora de série, à filme, passando por dentro de montanhas e à beira de precipícios cujo fundo era o mar. Para mim, uma medrosa, foram minutos de adrenalina como nunca vivi. Já a pé, no meio do nada e perante uma paisagem que deixa qualquer um de boca aberta, uma muralha de floresta queria ser explorada. Tenho a certeza de que a caminhada se fez tão bem por não estar um dia de muito calor e o orgulho era óbvio quando voltámos à povoação. No meio da floresta vimos casas, mercearias e cafés. Crianças voltavam da escola a pé, com os impecáveis uniformes azuis e dirigiam-se a nós em inglês e francês. Vimos até um menino com 4 anos, no máximo, a regressar sozinho. Quando nos apercebemos do quão longe a escola ficava, a diferença cultural ficou ainda mais acentuada.


Viver estes dias com os locais foi das melhores experiências que poderia ter, pois aproxima-nos muito mais da cultura cabo verdiana. O desenvolvimento económico não é igual ao europeu e isso reflecte-se bastante na forma despojada mas cheia de carácter deste povo. Vemo-lo a ser criativo e optimista pois estes valores são o seu fuel do dia-a-dia. Bens para nós tão comuns como água corrente e potável são preciosos, tanto nas casas como em hotéis ou restaurantes. Vive-se sem o facilitismo das grandes lojas, supermercados ou cadeias de fast food. Tivemos a grande sorte de ter uma cozinheira de mão cheia, a Lu, mãe da Vanessa, a preparar-nos café da manhã e refeições. A melhor experiência fora que saboreamos foi no restaurante Nautilus, com direito a música ao vivo. Aqui provei Cuscus, o bolo tradicional feito com farinha de milho. Interessante foi ver a confecção do mesmo, logo após o meu pedido. Outras iguarias que adorei foram cachupa, atum e pastel de milho, recheado com peixe e saboroso tanto em restaurantes como em mercearias modestas. Tudo é cozinhado na hora e isso nota-se na qualidade e no tempo de espera. Grogue e ponche são as bebidas típicas servidas e fico-me pela segunda opção, mais doce e que trouxe na volta para oferecer e ter um cheirinho de Cabo Verde na garrafeira.


Com tanto mundo para explorar sinto que tenho de voltar daqui a uns bons anos, para viver mais de Santo Antão, conhecer a zona de S. Pedro - uma localidade piscatória e observar a evolução do quente Mindelo.

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