As Escandinavas são as Novas Parisienses

Se há uns anos queríamos ser parisienses, hoje são os países nórdicos que nos fazem repensar a nacionalidade. De Paris vinha aquele imaginário bohème, sensual, despojado, que gostávamos de reproduzir. Desdobrando o conceito: ser parisiense é ter um copo de bourdeaux numa mão e cigarro na outra; apreciar queijos, arte e perfumaria mas tratando os assuntos de forma nata, algo que se conhece desde o berço; é vestir camisas brancas dois tamanhos acima e mal abotoadas com calças cigarrette ou uma breton com a típica boina. Ser parisiense é um selo, uma imagem que se reconhece em todo o mundo. Porém, esta imagem foi sendo caricaturada e tornando demasiado banal. Fomos reduzindo a ideia apenas à fracção visual, à superfície.

 Pernille Teisbaek para Vogue Ucrânia

Assim, ficaram abertas as portas para novas inspirações e vemo-nos a consumir a cultura escandinava. Falo do IKEA e H&M, mas também  do Lagom e do Hygge. O primeiro termo é sueco e significa, numa tradução livre, Suficiente, Contentamento. O segundo termo é dinamarquês e norueguês e significa Conforto, Bem-Estar. Esta explicação é breve pois os ideais estão directamente ligados com estilos de vida em tudo paralelos. Estes nomes, que temos dificuldade em pronunciar correctamente, foram comunicados através de livros como O Livro do Hygge, Alegria Hygge, Lagom - O Segredo Sueco para Viver Bem, Lagom - A Arte Sueca para uma Vida Equilibrada... entre muitos outros títulos semelhantes.

Não diferenciando países nem conceitos, o estilo de vida escandinavo é baseado no conforto, na função antes da estética. Viver de forma Lagom ou Hygge é uma promessa à felicidade individual e comunitária. Regras que simplificam o dia-a-dia em sociedade estão intrínsecas nas atitudes do indivíduo nórdico. Há um orgulho generalizado em se ter uma excelente conduta perante a comunidade. Ainda assim não se apela constantemente à perfeição, como noutras culturas, mas sim ao meio-termo. Falhar é normal, pois faz parte do processo de aprendizagem individual e, consequentemente, global. No livro de Linnea Dunne é descrita esta situação no meio familiar, aconselhando-se aos progenitores que não sejam pais perfeitos, sem falhas. Somente com erros conseguirão educar crianças com ferramentas para lidarem com o fracasso e desenvolverem resoluções para os seus problemas, presentes e futuros. A norte valoriza-se o tempo passado em família, com amigos e - imagine-se!- vizinhos. Por isso é tão importante ter um nível de produtividade elevado, sair do trabalho a horas e conseguir desligar a ficha da tomada após o horário laboral. Trabalha-se bastante mas tal é valorizado com licenças de maternidade e paternidade igualitárias e justas, pois, de facto, dá-se verdadeira importância ao tempo de qualidade com os mais pequenos. Pais e mães assumem as mesmas responsabilidades, sendo tão comum ver eles ou elas a tratar das crianças.


Os aspectos ecológicos merecem especial atenção neste lifestyle e valoriza-se a utilização de bicicletas e caminhadas como meio de transporte diário. Como os dias solarengos são escassos, acabam por ser motivo de festa e todos saem para a rua a fim de aproveitar a dose de vitamina D. Em termos de alimentação a balança fica bem equilibrada, pois presam as escolhas mais saudáveis mas complementam aqui e ali com bolachinhas e bolinhos de canela. Grande parte do convívio é feito em volta da mesa, dentro de casa, excepto quando os nórdicos se reúnem para praticar desporto ao ar livre, das caminhadas ao ski. O amor aos interiores é, contudo, demasiado flagrante, o que faz dos nórdicos exímios no mobiliário e decoração. A empresa Københavns Møbelsnedkeri é um exemplo de mobília super apetecível, feita manualmente. Mais abrangente é a dinamarquesa HAY, com produtos que cruzam o Bauhaus com a Pop Art.

No que diz respeito à Moda, quer-se prática e confortável, como tudo o resto.  Existe uma sofisticação simplificada, criada em camadas, devido aos ditames meteorológicos. Valoriza-se a qualidade e as peças básicas que, devido à resumida paleta de cores, jogam entre si. É, no fundo, uma estética minimal quebrada por alguns apontamentos de cor que sejam mais tendência. Os suecos Hennes & Mauritz conquistaram primeiro a Europa, seguindo-se todo o globo, com as suas lojas de vestuário acessível. Para englobarem outras fatias do mercado criaram uma vasta família: COS, Cheap Monday, Monki, Weekday, &OtherStories, Arket. Nascida em Estocolmo, a Acne Studios é a marca de designer mais cobiçada nos últimos tempos devido à estética contemporânea mas nada monótona. Da mesma cidade, virada para um público jovem e inspirada nas ruas temos a WeSC. Nas costas de todo o mundo passeiam as mochilas Fjallraven, descontraídas e coloridas passaram a ser a it bag hipster. Num registo mais sofisticado temos a dinamarquesa By Malene Birger, com opções senhoris e os imprescindíveis básicos. Também da Dinamarca podemos ainda destacar Ganni, como um dos nomes em ascensão da cena actual e favorito de todas as miúdas com pinta. Da Suécia, Fillipa K, que quase figurou a letra F do nosso abecedário, pois é de facto uma das minhas recentes descobertas, onde é feito um trabalho de design depurado incrível. Há também uma grande oferta vintage e uma tradição destes mercados por toda a Escandinávia.

Emili Sindlev

Se pensam que as mais maravilhosas it girls se encontram por territórios francófonos, não conhecem Pernille Teisbaek. Com um aspecto fresco, a stylist e consultora dinamarquesa, partilha connosco o seu estilo de vida super-escandinavo, onde maternidade-trabalho-família-diversão-amigos são um todo. Depois da queridinha francesa Caroline De Magritte ter assinado um manual que explicava como ser parisiense, desta vez é de Norte que sopram os ventos e Teisbaek lança este ano o seu livro.  Conhecem Janka Polliani? É uma celebridade norueguesa com milhares de admiradores internacionais. O seu ciclo de parceiras da mesma nacionalidade, no ramo da influência digital, incluí Tine Andrea, blogger e jornalista de Moda, a russa-norueguesa Darja Barannik, Annabel Rosendahl, buyer dos armazéns Hoyer. Outro nome a conhecer é o da stylist Emili Sindlev, provavelmente a mais arrojada das cinco acima mencionadas.

Resumindo e voltando ao título, as escandinavas são as novas parisienses, pois abraçam o mundo com estilo e ética, tudo na dose certa. Não só as mulheres deste ponto do globo, mas toda uma sociedade se tem revelado como exemplo a seguir. A ideia que sempre tivemos deste povo enquanto ícone de democracia, desenvolvimento e sustentabilidade tem-se afirmado, finalmente, pela voz do próprio.

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