Ser ou não ser quase Designer


Numa área cada dia mais competitiva, que tem assumido uma importância extrema e cada vez mais clara na nossa sociedade, temos de repensar qual o nosso papel na Moda. E no fim das contas, o que é Moda? Começando por aí, cada um pode com certeza identificar o seu lugar nesta área, percebendo o que, no seu pensamento, a Moda é.

Há quem tenha nascido com o dom de criar Moda, de desenhar e construir, através desses desenhos, peças de vestuário. Há quem não tenha nascido com esse dom, mas que ao longo dos tempos se tenha adaptado ao meio e crie tal como os primeiros, através do esforço e da aprendizagem. Há quem não tenha nascido com o dom, não o tenha exercitado mas considere que o tem, portanto cria ou pretende criar algo que dificilmente seja credibilizado pelas duas tipologias de pessoas acima descritas. O que faz esta terceira tipologia nesta área? O que pretendem? Que sonhos têm? Que objectivos já cumpriram? Conseguirão atingir os seus fins mais depressa que as anteriores tipologias conseguirão? Talvez sim, se utilizarem estratégias que têm muito que ver com o factor sorte, quase tão imprescindível como o factor trabalho. Se conseguirem fazer os contactos certos, conhecendo as pessoas certas. Mas não estão estas pessoas a ocupar um lugar na área que com certeza não deveria ser seu? Um lugar que não tem o seu nome impresso e que em tudo acaba por ser feito de mentira e falta de vocação.

Sempre admirei aqueles que continuamente souberam o que fazer da vida, o que queriam exercer quando fossem grandes. Sempre admirei aqueles que demoraram algum tempo a perceberem qual a sua vocação, mas que descobriram e são bons naquilo que fazem. Nunca admirei os que escolhem uma vocação através de sorteio ou que não se informam bem sobre o que nela podem e poderão fazer, naquilo que se podem tornar, nos nomes das suas possíveis profissões futuras. Se seremos designers, teremos de desenhar, se seremos médicos, teremos de curar doentes, se seremos escritores, teremos de escrever. E por estas profissões terem funções directamente ligadas não saberemos fazer mais nada que com elas se relacionem? Não necessitaremos de saber fazer tarefas, por vezes tidas como menores, que à priori julgamos que serão feitas pela nossa equipa de colaboradores e colegas? Um designer de Moda tem de saber fazer um pouco de cada área que envolve o seu processo de trabalho, tem de ter noções básicas do que faz cada indivíduo que se mantem na linha de trabalho directa ou indirecta à sua. É necessário um pouco de humildade para que não consideremos que o nome da profissão que exercemos é superior a muitas outras.

Contudo, deve ter-se em conta que bebermos um pouco de diferentes fontes do saber não nos torna profissionais nessa área. Quantos amadores vemos a tentarem progredir em ambientes como a blogoesfera, a fotografia (enquanto manequim e fotógrafo), a edição de imagem, o stylling… e a considerarem esses seus amores em algo sério? Muitos. Mas como em tudo, há os que o fazem bem e os que o fazem mal, há, portanto, amadores que exercem esse seu amor não só com prazer, mas com mérito, e aqueles que por nascerem com uma boa conjugação (ou não) de genes acalentam um sonho interior em se tornarem modelos famosos e como tal escolhem vias em tudo inusitadas para esse género de fins. Ou os outros que por gostarem de marcas de vestuário, de frequentarem e gastarem tostões em múltiplas superfícies, exibindo o “último” grito da moda se julgam bafejados com a vocação a que chamamos Design de Moda.

Deveríamos ser capazes de ver para além do óbvio, estar um passo à frente do que a sociedade nos impinge, antevendo o que nos será imposto futuramente e decidir responsavelmente se o aceitaremos. Para quê utilizar um local privilegiado, no Ensino Superior e não só, onde toda a informação circula velozmente e está acessível 24h por dia, para nos contentarmos com o que a indústria nos diz que é tendência, com o que se vende nas lojas, com o que sai nas revistas, aliás, para quê nos contentarmos em ler essas revistas?! O mundo está a renascer, em vários sentidos, sendo que na Moda nada de verdadeiramente novo parece ser descortinado. A retroalimentação engoliu-nos num buraco negro de mistura de influências; há anos que o tamanho dos continentes tem diminuído graças à Internet, às experimentações de liberdade que nunca antes outra geração teve. As fronteiras esbatem-se e podemos saber tanto do que se passa aqui como a km de distância. Para quê nos contentarmos com o óbvio? Para quê viver uma vocação que não é a nossa? Para quê perder tempo (e dinheiro) em algo que não nos alicia? Para quê sermos só mais um na manada com medo de rejeições sociais que só existem nas mentes fechadas? Para quê querermos o aval de quem não pensa fora da caixa?

Viemos ao mundo  numa época em que nos dão algumas ferramentas, cabe-nos a nós descobrir como se utilizam e com quais matérias-primas funcionam, para construirmos um legado consistente do qual um dia nos orgulharemos.

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