A Camisa Aloha

O Hawaii teve até ao final do século XIX  nativos e governantes polinésios, até ser dominado pelos Estados Unidos da América. Tornou-se assim, no início do século XX, o destino para muitos americanos, emigrantes europeus mas principalmente japoneses. A multiculturalidade dava cor à ilha. Fala-se que o grande pioneiro desta camisa foi o estudante Gordon Young, na década de 1920, que usava modelos feitios pela sua mãe. A costureira aproveitava os tecidos dos tradicionais kimonos e acabou por convencer muitos colegas universitários do filho a vestirem as suas criações.



Se os nativos do arquipélago já usavam vários corantes naturais para criar padrões nos seus panos, a junção vibrante das sedas japonesas levou a manufactura a outro patamar. Dos motivos ancestrais aos nipónicos muito se foi alterando na estampagem das camisas. Hoje modelos com imagens "contemporâneas" (elementos cosmopolitas dos anos 50) podem ser consideradas Aloha, mas as clássicas vão ganhar sempre (flores, frutas, palmeiras, ondas...).


Tom Selleck na série Magnum P.I., dos anos 80

Com a crise dos anos 30 as dificuldades económicas eram acentuadas, porém abriam oportunidades para os mais criativos e dinâmicos. Ellery Chun deu assim um enorme contributo, tornando a multicultural camisa em traje tradicional da região, ao colocá-la à venda com uma excelente estratégia de marketing. Escreveu por extenso aquilo que se dizia boca a boca "Aloha Shirts" ou "Hawaiian Shirts". Mais tarde, em 1941, com a entrada dos E.U.A. na Segunda Guerra Mundial, também oficiais do exército descontraíam do dia-a-dia fardado com as tropicais farpelas. Quando as tropas regressaram a casa levaram na sua bagagem as Aloha, disseminando por toda a América o estilo "nativo" e alegre. A aceitação foi imediata, principalmente em regiões costeiras, como a Califórnia. O Hawaii tornara-se um popular destino de férias nos anos 50 e as camisas eram um isco perfeito para turistas. Criava-se assim um ícone de vestuário para qualquer boémio, amante de ondas e cocktails.





Enquanto traje típico do Hawaii, esta camisa é obrigatória em festas, casamentos e eventos solenes. Quem diria que uma das peças de vestuário masculino mais descoladas e casuais é originalmente uma opção formal. Imaginem um local bem quente e tropical e um gestor de banco a atender-vos de camisa, blazer e gravata. Claustrofóbico e deprimente, no mínimo. A energia nas ilhas quer-se fresca e animada e assim temos um caso em que a cultura se adapta também ao clima.




É esta a viagem de um dos elementos de Moda mais kitsch que vai sendo mais ou menos aceite dependendo da ondulação das tendências. Hoje associamo-lo ao movimento rockabilly e principalmente a tempos de férias e lazer. Há por aí muitos pais dos anos 80 que têm destes tesouros, bem escondidos no fundo do baú. É achá-los e usá-los!

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