Terrárea | A Mensagem das Flores



Desde Julho, em Matosinhos, existe um espaço que não podemos definir como florista, nem como horto, nem como restaurante. É uma amálgama de tudo isto onde se destaca o conceito de sazonalidade, estética orgânica e alimentação vegetariana. Querem um ramo de flores para o aniversário da mãe ou para a amiga que teve bebé? Aqui encontram as espécies convencionais mas também opções mais campestres e diferentes, evita-se o papel colorido e os sprays brilhantes, dando-se prioridade a um aspecto natural, acabado de colher. Se preferem plantas de vaso, têm bastantes opções, dos cactos e suculentas às ervas aromáticas. Tudo habita em harmonia com peças de decoração, almofadas, vasos, espelhos... E mesmo ao lado fica a zona de refeições, com pequenos almoços e almoços saudáveis e muito saborosos. Café, sumos, bolos, tudo feito com produtos de qualidade.

 
A Terrárea é um projecto feito com todo o coração, pelos meus amigos Sofia & Márcio, após a estadia em Itália. Se não acreditasse tanto neles e na sua visão não me comprometia a um género de parceria, mesmo antes de ver o que construíram, num antigo armazém à beira da praia. Desta colaboração resultou o texto abaixo, que esteve em exposição no espaço de cafetaria desde a abertura até ser substituído pelo segundo, que brevemente também partilharei.  



As flores são, possivelmente, dos raros símbolos comuns nas mais variadas culturas, uma mensagem com o mesmo significado. A partilha de flores é sempre feita de afectos, amor, respeito. A sua presença é inquestionável nos momentos mais importantes das nossas vidas: nascimento, conquistas profissionais e pessoais, enamoramento, casamento, aniversários, despedidas… Os nossos antepassados, nos mais remotos locais do mundo, valorizavam cada flor segundo o seu significado. A linguagem dos ramos tomou proporções sociais bastante importantes no século XVIII, ao serem a única forma de casais apaixonados comunicarem. Este diálogo variava de espécie para espécie mas também conforme a cor das pétalas e os perfumes. Hoje, simplificamos a tradição e valorizamos mais o gosto pessoal de quem recebe e de quem oferece. A razão desta prática é óbvia devido à beleza que plantas e flores possuem, nas particularidades de cada espécie. Preservamos a oferenda para guardarmos o elemento estético mas também para recordarmos o gesto de carinho para connosco. Por isso secamo-las, prensamo-las dentro dos livros favoritos, como um segredo só nosso… De todos os receptores desta dádiva, são as mulheres os mais comuns. Num contexto romântico, as flores são oferecidas enquanto ode à beleza da figura feminina. As comparações entre estes elementos da Natureza e a Mulher são inegáveis, fazendo-se alusão à sua graciosidade, juventude, sensibilidade, vivacidade, fertilidade… A Mulher e a Flor fazem o par perfeito e por isso vemos tantas vezes poemas imagéticos em que o duo é protagonista. Na Pré-História as mulheres, ao desempenharem as suas funções recolectoras, famializaram-se com variados tipos de plantas - talvez tenha sido aqui que tudo começou. Da cultura greco-romana herdámos esculturas em que senhoras cheiram flores ou se adornam com elas. Grandes pintores também mergulharam na temática, desde Botticelli a Rubens, Fragonard a Picasso, Matisse a Warhol, Frida Kahlo a Van Gogh. Hoje, com a popularização da fotografia, inspiramo-nos nas imagens vintage das lendas do Cinema: Audrey Hepburn, Sophia Loren ou Brigitte Bardot. Produzimos imagens à máxima velocidade e os sonhadores não dispensam flores. Há uma enorme felicidade em utilizá-las como elemento essencial nos momentos especiais… e porque queremos que todos o sejam, convidamo-las a entrarem pelas nossas portas, como se todos os dias fossem de Primavera.

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