Transparência

Hoje, para além das questões sustentáveis, queremos que as empresas sejam verdadeiras e trabalhem com de forma ética, perante os seus colaboradores e consumidores. Numa era em que conseguimos pesquisar acerca de tudo, adquirindo dados para a tomada de decisão, é crucial que as marcas sejam honestas, a fim de manterem o seu público. Revelarem os seus processos e escolhas faz com que percebamos melhor o produto final e ganhemos respeito pelas empresas. Quando as produções estão deslocadas na Ásia é difícil controlá-las, pois por vezes determina-se um fornecedor, mas este acaba por subcontratar outra fábrica. Estes processos necessitam de ser re-avaliados para que tanto a marca como o consumidor final percebam realmente onde estão a investir o seu dinheiro. Quando dolorosos desastres acontecem do outro lado do mundo e se perdem vidas lado a lado com etiquetas de grandes nomes da Moda, temos de perceber o que aconteceu e decidir se continuaremos a fazer parte deste negócio. Para tornar uma marca transparente há um longo caminho a percorrer e alguns excelentes exemplos começam a revelar que é possível chegar a um elevado nível de abertura.

Tiff Chan & Shawn Griffin para os Prémios Justice Center Hong Kong 2014

Maison Cléo atingiu um sucesso enorme no Instagram, muito por culpa de Leandra Medine que publicitou a marca com um post no Man Repeller. O duo mãe e filha tem uma legião de fãs que tem de esperar pacientemente por determinadas datas para que a loja online abra. São colocadas à venda, de cada vez, cerca de 20 peças, que geralmente esgotam em cinco minutos. Esta exclusividade advém do tamanho da marca, que é familiar e tem apenas uma costureira, Cléo, a mãe. Marie, a filha, trabalha o marketing e a imagem de forma actual e digital, não fosse ela uma millennial. A junção de know-how qualificado de modelagem e costura com o conhecimento, a partir do seu core, de um mundo contemporâneo e informado, fazem com que a transparência seja um dos lemas da marca francesa. As séries limitadas de vestuário protegem a qualidade das peças ao máximo e quem as veste acaba por se sentir única, num artigo made in France acessível. Como anunciam, as margens e o lucro por cada item é descrito na loja online, sendo que, por exemplo, uma blusa 100% algodão, cujo metro custa 10€, e demora 3 horas a ser feita, tem o preço final de 110€. Por sua vez, uma saia em lã, de 17€ o metro, leva duas horas e meia a ser construída e tem o custo de 95€. 


Cléo e Marie, de forma simples e acolhedora, souberam receber o público em sua Casa, reconhecendo a sua estrutura humilde enquanto uma mais valia e nunca como uma incapacidade para o negócio. Aceitar e divulgar abertamente que o volume de vendas irá ser reduzido e que o consumidor terá de esperar semanas até conseguir adquirir e, posteriormente, receber o artigo faz com que se estabeleça uma relação de confiança e acaba por nos transportar aos antigos valores da espera e do artesanal.

Foto via Isto Magazine

A Isto foi criada por três portugueses, Pedro Palha, Vasco Mendonça e Pedro Gaspar, devido ao desencanto que sentiam pela moda actual, que se aplica muito no marketing e pouco na qualidade do produto. O objectivo da marca é colocar à disposição do consumidor artigos premium a um preço justo. Na loja online passeamos por entre básicos - no sentido que deveriam ser os pilares do guarda roupa masculino - cujos tecidos e fábricas foram escolhidos a dedo para que o resultado final agradasse ao corpo e à carteira. Da ficha do produto, escrita de forma divertida e original, consta o material orgânico, características da peça, a zona da fábrica e a descrição detalhada do custo da mão-de-obra, da matéria prima, etiquetas, transporte e embalagem. A marca portuguesa ainda se compara aos negócios ditos tradicionais, aquando da aplicação do preço final. Sensatos, os três sócios trabalham numa escala minimal, a fim de poderem controlar parcerias, qualidade e comunicação.

Foto via J Crew Blog

E o que dizer da J Crew, que explicitamente desvenda alguns dos seus fornecedores, como a Somelos? A empresa americana fez um artigo no seu site em que conta a história da fábrica portuguesa e refere, com entusiasmo, a sua localização, Guimarães. A isto acrescentam ainda um tour pelas instalações e um esquema da anatomia do blazer lá fabricado. No separador BLOG do site de vestuário, são partilhadas informações acerca de processos criativos, fornecedores de tecidos e fábricas. Independentemente dos acordos de exclusividade, qualquer pessoa pode saber que algumas peças são feitas por terras lusas, inglesas ou escocesas. Para além disso, na ficha de cada artigo consta se este é importado ou fabricado nos Estados Unidos da América. Em termos de preocupações sociais, têm políticas anti escravatura, participam activamente em projectos comunitários sem fins lucrativos, monitorizam a ajudam a melhorar as condições laborais dos seus parceiros. Embora no ranking da Fashion Revolution, que avalia a transparência das marcas mais lucrativas, a J Crew não esteja bem posicionada, estes pequenos passos revelam um interesse em ir mais além. A urgência está em passar das políticas idealistas às acções progressistas pois em 2018 temos a certeza que o segredo não é a alma do negócio.

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